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Um dedo de prosa
Um dedo de prosa

 

Todos os dias, ao raiar do dia, eu saia para ir comprar pão...

E via uma senhorinha, com estereótipo de descendente de índio, relativamente arrumada catando latinhas...

Quase sempre quando eu passava por ela, ela sorria e dava um bom dia.

Simpática aquela senhora...

Àquela hora da manhã, ela já estava com um número significativo de latinhas...

E assim a rotina se repetia dia após dia.

Até que passei a não vê-la mais.

Fiquei curioso...

O que teria acontecido?

E...

Passado algum tempo, em um horário mais tardio, voltei a vê-la catando suas latinhas...

Arrisquei um “dedo de prosa” com ela.

-          O que houve que você não está mais passando cedinho como fazia sempre?

E ela respondeu com ar de tristeza...

-          Meu filho, eu trabalho naquele hospital ali (e mostrou o hospital público) durante toda a noite e saia bem cedinho para catar as latinhas. Mas agora um chefe novo não me deixa mais sair um pouco antes da hora.

-          Mesmo? E você trabalha de que? Por que cata latinhas?

-          Ela, numa forma simples, com os olhos lacrimejantes contou sua pequena história:

Trabalha à noite na limpeza do hospital. Catar latinhas ajuda nas despesas, pois seu marido é doente e não pode trabalhar. Tem filhos que precisa estudar. Catando latinhas bem cedinho ela conseguia um número bem maior.

Eu questionei se ela teria conversado com o chefe dela. Ela respondeu que sim, mas que o chefe não aceitou liberá-la, mesmo tendo ela terminado todos os serviços...

Despedi-me dela e continuei meu caminho. Mas algo doeu dentro de mim.

Onde está a sensibilidade humana?

É verdade que o chefe está simplesmente cumprindo as normas...

Normas???

Acho que falta-nos, enquanto humanos, conversar mais com nossos semelhantes.

Entender todas as mazelas das pessoas que nos rodeiam.

Servidão humana.

...

Há leis.

Há normas.

Há regras...

Mas há exceções!!!